Eu sempre fui a amiga do "vamo" e do "vô". Subserviência total nas amizades. A amiga largou do boy? "Cris, vamos no Terra Chopp?"
- Vamo.
A amiga não largou, mas quer largar? "Cris, vamos ao bar do chorinho? Acho que não quero mais casar." - Vamo.
A amiga está sem companhia para sair. "Cris, vamos sair para comer?" - Eu sempre fodida de grana, recuo. "Vou não, estou sem grana." Mas, minutos depois. "Ah, vamo, refiz as contas, dá para ir" - "Ih, mas eu já chamei outra amiga." "Beleza, eu economizo nessa". Pensei, genuinamente. Mas, poderia ter dito "Caralhas, mas você só sai com uma amiga, não pode sair com duas?" Porém, esta resposta só veio na minha mente uma semana depois.
Também fui a amiga distraída - ainda não tinha sido diagnosticada com TDAH - que foi cobrada injustamente por não prestar atenção na mana que estava mal no rolê.
Eu tinha dado a minha única barra de cereal para ela comer e fiquei do ladinho dela por um tempo, mas foi um inocente comentário que fiz, que feriu totalmente o ego dela. Eu havia dito que, no meu imaginário, eu admirava ela ao lado de um homem mais velho estiloso. "Eu gosto de novinho." Ela esbravejou esta frase numa lavada de roupa suja meses depois do dia fatídico.
Achei que tivesse tido o maior filtro da minha vida quando eu caí na cama de um hospital por meses. Se engana muito quem acha que estar no hospital é receber visita de pessoas verdadeiras. Descobri sob o efeito da morfina, que muitos que nos visitam na cama de um quarto frio e branco é apenas para jogar terra na cara da gente. Inclusive, teve aquela amiga que eu falei que não queria que me visitasse.
Aquela mesma, que queria terminar com o noivo no começo do texto, casou e não me chamou, mas achou conveniente chamar o amante na cerimônia. Ah, e eu só soube do amante porque a outra amiga dela, que foi convidada, me contou em tom de fofoca. Na época que eu achava que éramos um trio forte de união e amizade.
Fui amiga do vamo que sempre ficava de fora do vamo de outras amigas. Estas que postavam fotos felizes na rede social com legendas subentendidas, que deixavam minha mente metralhar frustrações, uma possível provocação do "só você não foi chamada."
Eu fui a amiga do vamo, da que colocava a dor no bolso para atender a dor da outra amiga, fui a amiga que levou fama sem deitar na cama, acusada de ter ficado com o bilu bilu da colega, mas na verdade não fiquei. E essa falsa acusação, que nunca foi esclarecida, ficou no ar até ontem, hoje aqui nestes escritos, deu até vontade de falar mais claro sobre esse assunto:
- Não fiquei com seu ex bilu, mas deveria ter ficado, já que você nunca quis falar sobre o assunto comigo e se afastou de mim por isso. A lealdade tem o preço, e esse preço eu paguei na minha vaidade por completar o álbum com mais uma figurinha simpática do rolê. Será que ainda dá tempo?
Fui a amiga incompreendida, a amiga que quis ver o circo pegar fogo, entregando a colega que saía com o namorado da outra, essa outra se aproximou chifruda para causar desconforto no boy. Ah, eu nunca gostei de injustiça mesmo.
Todo esses causos aleatórios, de quando eu ainda era uma mulher Fábio Júnior de 20 poucos anos, me deixam reflexiva, porque hoje, por estar na metade da vida Balzacquiana, eu tenho palavras certas para falar com honestidade:
Eu não peguei o arroba da colega porra nenhuma e muito menos quis ofender outra amiga mimada. Deveria falar que eu estava no evento curtindo e que se ela se ofendeu por pouco, é porque a terapia estava vencida.
Hoje eu falaria para o trio forte de amizade, que eu nunca me encaixei no rolê com alpinista social, que elas são, e que foi bom mesmo não me chamarem para os sociais dessa gente cafona que usa bota branca, porque eu não tinha roupa, nem grana e muito menos boldo para o meu fígado aturar tanta gente porre.
Já fui muito a amiga do vamo, e hoje, sou a amiga do foda-se.
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