- Amor, você viu que a Gal faleceu?
Mensagem enviada.
- Acabei de ver. Que pena! Fico muito triste.
Talvez a gente trocaria essas mensagens no fim da manhã deste dia 9 de novembro de 2022.
Pensei nisso agora, às 18 horas enquanto eu lavava a louça e escutava ao álbum Recanto, 2011. A gente estaria junto em luto, você fazendo o jantar e eu na minha cerveja com a música tocando ao fundo.
- Lembra daquele dia que falei que estava ouvindo uma música pensando em você?
- Como poderia esquecer?! Ri tão alto quando você respondeu que era VACA PROFANA.
- Te conheço, mulher!
Realmente, os meus gostos e a maneira fácil que eu me apaixonava ele conhecia. Foi assim que aceitei o pedido de namoro no segundo encontro enquanto escutávamos Bossa Nova. Impossível não se encantar por quem dedilhava em cordas de nylon o mais gostoso sambinha carioca.
Era ele quem contava as histórias de todas as músicas, como quem tivesse nascido no berço da MPB e me aproximava mais daquilo que desde minha infância eu escutava de penetra em festas na casa dos tios ricos: a música popular brasileira.
Não existiu paixão melhor e maior que aquela que, através da música, transformava nossas resenhas de casal em um sarau.
Mas dali não sairia caldo, não vingaria, como diria minha avó. Eu me iludo fácil, rápido, feito uma menina, mas desapego também fácil, decidida tal qual uma mulher ferida. O previsível me cansa.
"O problema sou eu." Foi o que eu disse naquele dia tão ensolarado, que pude sentir o suor escorrendo pelas minhas costas enquanto impiedosamente revelei o mais fraco motivo, porém verdadeiro, de romper com aqueles olhos amendoados.
Era o fim do romance com aquele homem de baixa estatura e dedos finos que me tratava com o mesmo cuidado que ele tinha com o violão.
Se apaixone por alguém que também goste de Gal, é o meu conselho.
Mesmo uma década depois, quando ainda me perguntam dele e o porquê não deu certo, profano sem pestanejar:
Pois já não vales nada, és página viradaDescartada do meu folhetim
Descansa em paz, Gal.
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