"Deus, eu ainda não terminei de viver!"
Foi exatamente este pensamento que eu tive quando a morte tentou me levar naquela sexta-feira 13 do mês de outubro de 2017. Em frações de segundos, enquanto caía de 10 metros, eu projetei o que eu ainda queria viver e que ali não era o momento terminar tudo.
Não era justo. Poderia ter saído mais pensamentos como: "Eu padeci até aqui. Agora que eu tenho chance de poder experimentar talvez ser esposa e mãe, vai me tirar assim, de forma tão estúpida? Então é assim, a gente planeja e é você, Deus, quem decide que não vou terminar de ler o meu livro e dar comida para o meu gato?"
Venho do futuro, quase 5 anos depois, para dizer que Deus realmente queria que eu fosse mãe e tirasse essas cascas de tangerina que Caetano enfiou dentro da minha meia, que só fui perceber na hora de ir para o Pilates. Obrigada, Deus! Vou lá trocar de meia.
Essa experiência maluca de ser mãe, hoje solo, talvez sempre solo, é o clichê de toda mãe que trabalha em casa e está vivendo a docilidade de um limão da semana do saco cheio enquanto projeta umas das melhores campanhas de sua carreira.
Está tudo bem, eu poderia nem precisar colocar a meia para ir para o Pilates, se na queda eu tivesse fraturado mais profunda a medula ou se eu não fizesse a cirurgia a tempo depois de 3 dias e 11 horas de viagem de ambulância.
Estou aqui no futuro para acalmar aquela alma congelada que esperou por 1 hora e 40 minutos o resgate cinematográfico no meio do mato em 2017, que a temperatura vai voltar ao normal, que você não vai perder os movimentos, mas que todo o frio da vida vai sentir fortes dores devido as próteses que precisou colocar na coluna, e que 3 vezes na semana você fazer a mesma piada com a professora de Pilates: "é bom fazer exercício deitada".
O meu futuro chegou e estou no carro com Caetano brigando com ele porque não aguento mais ouvir "Meu limão, meu limoeiro" de Wilson Simonal, e me rebaixo para 2 anos e 7 meses e digo que é a minha vez de escolher a música, enquanto cumprimos a divertida missão dos passeios aos sábados.
Obrigada, Deus, por me permitir continuar a viver e ficar aqui remoendo o amargo do prestador de serviço que não gosta de ser cobrado e joga na minha cara, aproveitando da minha fragilidade, que se eu não tiver satisfeita, para procurar outra pessoa.
E assim, vivendo e sobrevivendo, termino sem interrupções do telefone, do Caê que dorme profundamente depois de 40 minutos de gritos porque não queria dormir.
Ser mãe é foda demais, de tão bom!
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