É da madrugada que gosto. É neste estágio que a lua fica mais brilhante, mais baixa, sinto que se eu esticar um pouco mais as minhas mãos posso tocá-la com as pontas dos dedos.
É no silêncio da madrugada que escuto mais os pensamentos. É a sincronização das ideias com os grilhos da rua, e de longe, bem longe, posso escutar os barulhos dos motores dos carros passando junto com balançar das folhas das árvores.
E é justamente nesta madrugada que sinto a solidão gelar por entre os ventos que vem pela janela. Ele sobe pelas minhas pernas e parece penetrar dentro de meu coração e ele transborda pela falta de companhia.
Tristeza por não ter por quem sorrir, por quem amar.
A madrugada me deixa madura, mais velha e mais focada. Me deixa artista, desinibida, despida em palavras. A música fica mais alta, o tilintar da gota caindo sobre o metal na cozinha fica harmonioso, não mais incomoda, não mais me desperta.
E antes que venha a aurora, adormeço com a canção das palavras em meus pensamentos. Primeiro sonho, para depois dormir. Poucas horas que me restam de descanso e com pesar, desfaleço. Contra minha vontade me aconchego nos travesseiros.
Não quero dormir, eu prefiro a madrugada.
E tenho vivido.
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